Sociedade Empreendedora, Democracia e Ataque ao Status Quo

 

Fonte: Medium                                                                                                                                               

Infelizmente, no Brasil, a criação de uma sociedade empreendedora nunca foi prioridade dos governos, considerando que só através dela é possível fortalecer a democracia e realizar um ataque ao status quo. A prioridade sempre foi dada à expansão de megaempresas,  as quais são fortalecidas num capitalismo selvagem. expandido a ganância corporativa.

É difícil imaginar que o crescente domínio de megaempresas e grandes governos ajudem a superar os desafios atuais, com um empreendedorismo em declínio num mundo em que a casta mais baixa não tem a necessária ajuda governamental, quando se observa que a rentabilidade das corporações advém cada vez mais das ligações governamentais e não da produção de valor para a sociedade e consumidores.

Uma Sociedade Empreendedora vem sendo definida como uma sociedade onde os desafiadores do status quo atuam como a força crítica que impulsiona o progresso, a prosperidade e a competitividade nos mercados globais e onde as instituições e as políticas se concentram em facilitar e gerar essa atividade empreendedora.

Em resumo, uma sociedade empreendedora é aquela em que desafiar o status quo é incentivado e facilitado no capitalismo de mercado e na democracia, que podem ser vistos e revitalizados como motores de progresso, num momento em que o mercado está destruindo a democracia e o bem-estar social, a exemplo do que acontece no Brasil.

Pesquisa realizada na Universidade de Harvard em centenas de países mostrou que quando se fala em redistribuição de renda e democratização,  o mercado treme e as ações reduzem a valorização, como se estivesse numa crise. Mas o efeito do tremor do mercado não é o resultado da democratização, mas é direcionado pelo medo das elites em redistribuir rendas, que afetam a riqueza e o poder delas durante transições políticas.

Assim sendo, a pesquisa mostrou que democratizações bem- sucedidas levam as elites ricas anteciparem políticas de redistribuição, como impostos mais altos, setores públicos mais fortes e maiores, aumento da concorrência econômica e reformas econômicas favoráveis ao trabalho. Essas políticas reduzem desigualdade de renda, mas levam as elites a perceberem as democratizações como desastres devido à incerteza sobre quanta riqueza será distribuída.

Isto mostra que a elite no Brasil não admite redistribuir renda e democratizar o país, o que é reforçado pelos governos de esquerda e direita em incentivar e até financiar grandes corporações, principalmente no setor do agronegócio, a exemplo da JBS, maior produtora de carnes no mundo e grande responsável pelo desmatamento no Brasil.

A participação de grandes corporações e bilionários vem sendo questionada no mundo inteiro como fonte de progresso e bem-estar social. As corporações, pela própria natureza, são oportunistas e só entram onde tem dinheiro. Os bilionários, como disse o economista Thomas Piketty,  vão sempre exagerar a importância deles para a sociedade. Mas não são importantes, pois vão sempre justificar seus privilégios.

Só através da criação de uma cultura de sociedade empreendedora, inexistente no Brasil, é possível enfrentar o status quo e avançar na democratização do país e redistribuição de renda, visando eliminar as desigualdades sociais e mudar a mentalidade de nossos governantes em privilegiar megaempresas, responsáveis pelas mazelas do país, incluindo a degradação ambiental, falta de saneamento básico e sofrimentos da pobreza.

A conexão entre sistemas econômicos e políticos foi uma grande questão na economia política clássica, mas nos dias de hoje poucos economistas discutem um assunto que deve ser enfatizado nos cursos de economia, administração, ciências sociais, sociologia, ciências políticas, entre outros. Além disto, é preciso esclarecer o papel de corporações públicas e privadas, principalmente no sistema financeiro, que financiam o desmatamento e destruição ambiental, incluindo o BNDES.

Pesquisa recente mostrou o quanto é baixo o compromisso de bancos públicos e privados brasileiros com questões socioambientais e climáticas, incluindo o Banco do Brasil e BNDES, que podem estar envolvidos em investimentos cruéis de desmatamento, sem falar nas ações devastadoras da Petrobrás.

Como já foi dito, os valores empreendedores precisam ser priorizados no país, visando a redistribuição de riquezas, cidadania, ética, liberdade e políticas ambientais destinadas a enfrentar as mudanças climáticas. Contudo, no contexto do capitalismo selvagem brasileiro, o empreendedorismo é usado para justificar a exploração, desigualdade e subemprego, com leis aprovadas para beneficiar o mercado e não os trabalhadores.

Através de um individualismo exacerbado, prega-se que cada um seja responsável pelo próprio negócio, ignorando-se as desigualdades estruturais. Isto não é empreendedorismo, mas a marca do capitalismo selvagem. 

Por fim, só uma sociedade empreendedora poderá enfrentar o status quo e defender um capitalismo de mercado regulamentado, a democracia, a prosperidade e o bem-estar social. Isto não será alcançado com megaempresas e aumento do número de bilionários. 

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